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sexta-feira, 29 de junho de 2007

Viagem a Cap-Haitien e a recepção calorosa dos trabalhadores

A nossa delegação saiu por volta das 8 horas da manhã (horário local), desta sexta-feira (dia 29), de Porto Príncipe em direção a Cap-Haitien. Havia muita expectativa entre os companheiros e companheiras que formam essa missão de solidariedade e, acima de tudo, luta pela retirada das tropas brasileiras do país.

Foram 230 quilômetros de estradas esburacadas, sete horas de uma cansativa viagem e imagens que marcam: crianças em condições miseráveis, pessoas tentando ganhar algum dinheiro vendendo coisas ou alimentos na rua, famílias tomando banho nos rios, lavando suas roupas neles e o esgoto a céu aberto muito próximo às moradias locais.

Em alguns momentos, o contraste ficou por conta da visão de grandes mansões e o belíssimo Mar do Caribe.

Apesar da grande situação de pobreza, fruto da exploração capitalista, algo é comum no rosto do povo haitiano. Invariavelmente, nas suas feições, demonstra-se uma alegria que parece-me inexplicável.

É um povo lutador, sem margem de dúvida. Creio que sua história deve servir como exemplo aos brasileiros. A própria expressão que eles utilizam quando perguntados como estão revela muita coisa. “Nap kenbe fein”, dizem eles. Na tradução para a língua portuguesa, seria algo como “estamos resistindo firmemente”.

No desviar dos buracos da estrada, vimos várias bases da Minustah, a missão da ONU que, sob o comando do Brasil, oprime este povo.

Das janelas do ônibus, cada membro da delegação teve a sua própria experiência com a triste face da pobreza. A minha foi a de olhar nos olhos das crianças à beira do caminho. Um olhar penetrante, que, embora muito receptivo, denuncia o que é desigualdade.

ENCONTRO COM OS TRABALHADORES
Na chegada a Cap-Haitien, um auditório, tomado por 400 trabalhadores, esperava a chegada de nossa delegação. Os companheiros, vínculado à organização “Batalha Operária”, nos recebeu com cantos operários.

Um deles, em creole (língua da maioria do povo), dizia: “Saudações. Aqui não tem patrão. Aqui não tem burguês”.

Trabalhadores rurais, sem-terra, do setor de educação e de empresas como a Coca-Cola e a cervejaria Prestigie formaram o público que tão calorosamente nos recebeu. Toda a delegação foi apresentada. A “Carta ao Povo do Haiti”, documento que se opõe a ocupação militar comandada pelo Brasil, foi lida e muito aplaudida pelos presentes.

No final do encontro, quase ao anoitecer, os trabalhadores brasileiros e haitianos dançaram juntos ritmos haitianos.

(Foto: Rodrigo Correia)

Delegação atravessará o Haiti rumo à cidade da vitória da revolução negra

Nesta sexta, a delegação da Conlutas começa uma viagem dentro do Haiti, para conhecer mais de sua história, sua gente lutadora e a exploração capitalista na nação mais pobre das Américas.

Já foi combinado que saíremos por volta das 6 horas da manhã, do horário local, rumo a Cap-Haitien, que fica na costa norte do Haiti. Cap-Haitien, que significa “Cabo Haitiano”, é a segunda maior cidade do país.

Para chegar até lá, saíremos de onde estamos, a capital Porto Príncipe, e atravessaremos o país. “Serão pelo menos cinco horas de viagem”, nos alerta Didier Domenique, da organização local “Batalha Operária”, que nos recebe nesta viagem de solidariedade.

No caminho, vamos parar para conversar com os trabalhadores rurais e conhecer de perto um pouco de sua realidade. Nas janelas do ônibus, emprestado pela universidade da capital, veremos imagens de um povo que carrega no seu DNA as características de guerreiro e lutador.

Não sabemos como será o acesso à telefonia nem tampouco à internet em Cap-Haitien. Se já estamos com imensa dificuldade em alimentar o blog por questões estruturais em Porto Príncipe, pode ser que o desafio seja ainda maior nos próximos dias. Por isso, se o blog demorar a ser atualizado, entendam nossa dificuldade, companheiros e companheiras.

Programação
Na sexta à tarde, já em Cap-Haitien, devemos falar com os trabalhadores em um auditório da cidade.

No sábado, vamos à “Citadelle”, forte construído pelos escravos depois da revolução de 1804. No mesmo dia, vamos à zona franca de Ouanaminthe. Lá, veremos a realidade dos trabalhadores que são explorados de forma análoga à escravidão. Nas zonas francas, funcionam as chamadas “maquiladoras”, multinacionais que recebem grande isenção de impostos e, em contrapartida, não oferecem aos seus trabalhadores quase nenhum direito trabalhista. Pelo contrário: são recorrentes os relatos de casos de agressão de trabalhadores, inclusive gestantes, e perseguição violenta aos líderes sindicais.

Este, na verdade, é o grande projeto que a ocupação militar da ONU quer perpetuar: tornar o Haiti uma grande zona franca, com mão-de-obra miserável e muitos lucros aos grandes capitalistas.

Na noite de sábado, deveremos voltar à Porto Príncipe.

Até breve (faltam poucas horas para partirmos)!