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quarta-feira, 20 de junho de 2007

Haiti: três anos de ocupação, miséria e sofrimento

Por Antônio Donizete Ferreira

Em junho de 2004, soldados brasileiros deixaram suas famílias no Brasil e desembarcaram no Haiti, acreditando estarem contribuindo com a estabilização da crise sócio-política surgida desde a deposição do então presidente Jean Aristide. No entanto, a ação militar brasileira, que reúne o maior contingente desde a Segunda Guerra Mundial, tem interesses muito mais profundos e obscuros do que melhorar a vida dos haitianos.

O Haiti foi o primeiro país latino-americano a conquistar sua independência. Seu povo protagonizou a primeira e única revolução de escravos vitoriosa no mundo. Mas esta ousadia jamais foi perdoada pelos países colonialistas que, ao longo da história, ocuparam sistematicamente o país, sufocando seu desenvolvimento econômico.

Hoje, o Haiti é o país mais pobre das Américas. O levantamento das Nações Unidas mostra uma população jovem, negra e praticamente analfabeta. Aproximadamente 60% dos adultos não têm instrução primária e mais da metade das crianças não freqüentam escolas. Além de deter os piores índices de mortalidade infantil (125 mortes por mil crianças nascidas), é o maior indice de infecção por Aids do hemisfério. Cerca de 80% da população deste país vive abaixo da linha da pobreza.

Nesses três anos de intervenção militar liderada pelo Brasil, a vida do povo haitiano não melhorou. Existem várias denúncias de uso indiscriminado de violência por parte das tropas de ocupação, incluindo agressões e assassinatos. A situação das mulheres é ainda pior, com denúncias de estupros e assédios realizados por soldados estrangeiros na capital Porto Príncipe.

Essas denúncias de violência gratuita, estupros e assassinatos nos remetem à guerra do Iraque. Não faltam imagens de marines assassinando civis iraquianos. Há uma outra característica entre os dois países. Quando George W. Bush decidiu invadir o Iraque, seus motivos também não estavam muito claros, falavam de armas químicas (que nunca foram achadas), depois de democracia e agora está claro: a guerra do Iraque é uma verdadeira ocupação imperialista em busca de petróleo.

Algo idêntico ocorre na ilha caribenha. O imperialismo pretende transformar o país em uma plataforma de exportação, uma grande "zona franca", utilizando o trabalho do povo haitiano em condições análogas às da escravidão, através das empresas chamadas "maquiladoras", principalmente no setor de vestuário e artigos esportivos. Outro grande projeto é, em conjunto com o governo brasileiro, produzir nesta parte da ilha o etanol de que os EUA precisam.

Para conseguir este objetivo foi preciso reprimir os vários protestos que vinham e continuam acontecendo no país. Eles precisam de uma intervenção militar, camuflada sob a bandeira da paz e da democracia. Como as tropas americanas estão enterradas até o pescoço no Iraque, foi necessária a intervenção de outros países, seus sócios menores. E, neste momento, o governo Lula aparece como fiel escudeiro dos interesses imperialistas, mandando soldados brasileiros reprimirem o povo mais sofrido do continente.

Nesses três anos de ocupação, dezenas de entidades sindicais e da sociedade civil, como Jubileu Sul, o MST e a Conlutas, juntamente com várias entidades de direitos humanos, têm denunciado essa ocupação militar. O PSTU é parte deste movimento.

No dia 26 de junho, uma delegação brasileira de sindicalistas e representantes de entidades civis partirá para o Haiti com o objetivo de denunciar esta ocupação. Vamos levar nossa solidariedade à luta do povo pobre e oprimido daquele país pela sua autodeterminação. Queremos exigir do governo brasileiro a imediata retirada das tropas, pois a exploração do povo haitiano é a mesma que atinge o povo brasileiro.

Antônio Donizete Ferreira (Toninho) é dirigente do PSTU e membro da delegação que vai ao Haiti

Programação da delegação no Haiti

A delegação da Conlutas no Haiti vai realizar uma série de atividades, entre elas, encontro com o presidente e o primeiro-ministro do país. O grupo contará com o apoio da Batay Ouvriye (http://www.batayouvriye.org/), organização haitiana que luta pela soberania daquele povo e pelos direitos dos trabalhadores. Confira abaixo a programação, dia-a-dia:

Terça-feira, dia 26 de junho
12h00: Chegada da delegação ao Haiti.
16h00: Encontro com os dirigente da Batay Ouvriye, que é a entidade que vai receber a delegação.

Quarta-feira, dia 27 de junho
09h00:
Encontro com embaixador brasileiro na Embaixada do Brasil.
10h00: Encontro com embaixadores da Argentina, Chile, Uruguai, Bolívia, Cuba e Venezuela, na embaixada brasileira.
12h30: Visita a uma “maquiladora”, empresa na qual os trabalhadores não têm direitos garantidos.
15h00: Encontro com a reitoria e professores da Universidade do Estado.

Quinta-feira, dia 28 de junho
09h00: Audiência com:
- Presidente da república;
- Primeiro-ministro;
- Ministro de Assuntos Sociais e do Trabalho;
- Ministro de Comércio e Indústria.
(a delegação será divida para cumprir a programação, pois as audiências serão em separado).

14h00: Visita ao Museu do Panteão Nacional.
16h00: Visita à Faculdade de Ciência Sociais, da Universidade do Estado.

Sexta-feira, dia 29 de junho
06h00: Viagem até Cap-Haitien (segunda maior cidade do país); no trajeto: encontro com trabalhadores rurais de várias regiões.
15h00: Encontro com dirigentes operários e rurais.
16:30: Encontro aberto dos trabalhadores e imprensa no auditório da cidade.

Sábado, dia 30 de junho
06h00: Subida a "Citadelle", fortaleza maior da vitória de 1804 contra a escravidão.
13h00: Chegada à "zona franca" de Ouanaminthe, onde os trabalhadores locais lutam contra ataques e demissões.
15h00: Encontro aberto com os trabalhadores dessa "zona franca".
17h00: Retorno a Cap-Haitien.

Domingo, 1º de julho
06h00: Retorno à capital, Porto Príncipe.
15h00: Encontro aberto com trabalhadores e público em Cité Soleil.

Segunda-feira, dia 2 de julho
09h00: Coletiva de imprensa, com várias emissoras de TV e rádio.
15h00: Encontro com organizações de direitos humanos, de mulheres, de pastorais da Igreja, de representantes de alguns partidos políticos, de organizações e movimentos populares, personalidades e intelectuais.
19h00: discussões aprofundadas com convidados.

Terça-feira, dia 3 de julho
Último dia da visita, com preparação para o retorno ao Brasil e produção de pré-relatórios ou documentos sobre a missão da delegação.