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terça-feira, 3 de julho de 2007

Delegação cumpre sua missão no Haiti, diz fora às tropas e retorna nesta quarta ao Brasil

Começo a escrever este texto às 15h50, no fuso horário do Haiti, ou seja, às 17h50 em terras brasileiras. Estou dentro do avião que nos levará a uma conexão ao Panamá. De lá, o destino será o Brasil. A delegação da Conlutas deixa o país caribenho com um sentimento de dever cumprido, mas com a consciência de que muito trabalho ainda precisa ser realizado: a campanha pela retirada das tropas brasileiras do Haiti precisa se intensificar em nossos sindicatos, organizações e junto aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras.

Participamos de reuniões com autoridades (inclusive o presidente René Préval), nos encontramos com trabalhadores do campo e da cidade, visitamos locais históricos e conhecemos a cultura haitiana e a sua riqueza. Por outro lado, vimos o inverso na questão sócio-econômica. A miséria é uma gravíssima situação no país mais pobre das Américas.

Com o presidente Préval e o embaixador brasileiro, nossa delegação enumerou argumentos e exigiu o imediato fim da ocupação militar estrangeira no Haiti.

Proximidade com os trabalhadores
Apesar dos encontros com as autoridades, o maior mérito da delegação foi o de estar junto com os trabalhadores haitianos em diversas oportunidades. Ouvimos suas queixas a respeito dos ataques aos seus direitos e à desumana exploração de sua mão-de-obra. Sentimos nestes trabalhadores uma força muito grande, de resistência à toda exploração perpetrada pelas grandes potências capitalistas, ditaduras e ocupações estrangeiras.

“O Haiti, que foi o único país das Américas a fazer uma revolução de escravos e conquistar sua liberdade frente aos colonizadores franceses, precisa declarar a sua segunda independência. E nós, da Conlutas, estamos nessa luta com os trabalhadores haitianos”, disse o coordenador da delegação, Antonio Donizete Ferreira, o Toninho.

Partilha da experiência
Creio que muita coisa precisa ser partilhada pelos 20 componentes da delegação. Isso deve ser feito em suas entidades, organizações, universidades, na militância política e em todo o lugar.

A nossa delegação deve chegar às 6h, desta quarta (dia 4), no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. No desembarque, traremos conosco experiências que marcaram nossas vidas.

(fotos: Wladimir de Souza)

Delegação reforça exigência pela retirada das tropas e conhece mais da cultura haitiana

A delegação da Conlutas, que foi ao Haiti exigir a saída das tropas brasileiras do país, participou, nesta segunda-feira e penúltimo dia de nossa visita, de um debate com organizações de direitos humanos.

O encontro se realizou num auditório cedido pela Igreja Católica local. Os membros da delegação reafirmaram a posição de exigir a retirada das forças militares que oprimem o povo e fazem o jogo dos países imperialistas, que querem explorar, de forma muito contudente, a mão-de-obra pobre do Haiti.

Algumas pessoas presentes ao debate defenderam que as tropas devem ficar no país por mais algum tempo, pois o país precisava da força de “estabilização”.

O coordenador da delegação, Antonio Donizete Ferreira rebateu essa argumentação em seu discurso. "Se ocupação militar resolvesse os problemas do povo, o Haiti seria o país mais rico das Américas", disse Toninho, numa referência às várias ocupações e ditaduras instauradas pelo imperialismo no país desde a sua independência.

"A dita estabilidade que muitos justificam a ocupação é a estabilidade em benefício dos grandes neoliberais, que querem explorar ainda mais os trabalhadores deste país. O presidente René Préval demonstrou, quando o encontramos, qual é a sua posição sobre a exploração de seu povo. Ele simplesmente se escondeu embaixo da mesa", disse Karina Oliveira, diretora do Sindicato dos Químicos de São José dos Campos e componente da delegação, a respeito do gesto inusitado do presidente haitiano durante a reunião com os membros, no dia 28.

Vodu e cultura haitiana
Depois do debate, fomos fazer uma atividade muito esperada pelos membros da delegação. Fomos a um templo vodu e participamos da empolgante celebração, familiar a boa parte do povo haitiano.

Quando falamos de vodú, muitos pensam, por culpa da indústria cultural de Hollywood, em alguém espetando um bonequinho com fins malignos. Pelo que vimos, é totalmente o oposto. Foi uma celebração de integração dos povos haitiano e brasileiro, com frisou o professor José Geraldo Correa Junior, da Apeoesp São Paulo, pela Oposição Alternativa.

O vodu é uma celebração parecida com os cultos afro-brasileiros, como o candomblé brasileiro. Um ritual envolvente, no qual a delegação participou entusiasmada. Uma das músicas cantadas em criole (língua da maioria do povo haitiano) dizia: "Irmãos, irmãos. Somos todos irmãos".

Neste ambiente de integração e acolhimento, tivemos contato com uma celebração que, muito mais do que meramente religiosa, é estritamente cultural. Faz parte e foi construída com a história do povo do Haiti.

Compromissos do último dia
Nesta terça, dia em que pegamos o avião de volta ao Brasil, teremos ainda agenda a cumprir. A delegação vai se dividir em coletiva de imprensa e entrevistas para rádios locais. Outros componentes vão conversar com o embaixador chileno no Haiti (claro, com a mesma linha de defender a retirada das tropas estrangeiras do país).

(Fotos: Wladimir de Souza)