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segunda-feira, 2 de julho de 2007

A exploração sem limites nas “maquiladoras”

No sábado, dia 30, depois de visitarmos a “Cidadela”, fomos para uma reunião com 100 trabalhadores em Ouanaminthe, onde está localizada a primeira zona franca do Haiti. Conversamos com os trabalhadores sobre a nossa luta pela retirada das tropas brasileiras do seu país (propósito da viagem de nossa delegação) e sobre a exploração cruel a que eles são submetidos.

A criação de zonas francas faz parte de um plano que interessa muito às grandes potências e aos Estados Unidos. Nada menos que um total de 18 estão programadas para serem criadas. Nelas, estão instaladas as “maquiladoras”, empresas multinacionais que desfrutam de vários benefícios fiscais e exploram os trabalhadores de forma semelhante à escravidão.

A fábrica Codevi é um exemplo. Ela fabrica jeans para marcas famosas como a Levis e a Wrangler, e é parte de um conglomerado dominicano, o grupo M. Os operários recebem US$ 46 por mês e trabalham vigiados por capatazes armados, segundo a denúncia do sindicato.

Histórico de repressão
Logo no início da operação da fábrica, em 2003, foi organizado um sindicato para lutar contra estes abusos. A reação foi imediata, com a demissão dos 34 ativistas que organizavam a entidade. Uma greve de dois dias fez os patrões recuarem e admitirem os operários de volta, naquela que foi a primeira vitória na zona.

De imediato, 370 operários se filiaram ao sindicato. Menos de uma semana depois, a fábrica demitiu os 370, e se começou outra luta, de mais de um ano. Os trabalhadores fizeram greves e uma campanha internacional que chegou aos EUA. Uma aliança com estudantes universitários norte-americanos possibilitou um boicote aos jeans dessas marcas. Finalmente, a empresa teve de recuar e readmitir os operários.

Proibido se aproximar
Nossa delegação foi à portaria da maquiladora Codevi. Bom, pelo menos foi essa a tentativa, já que a segurança armada da empresa não permite a aproximação de “visitantes indesejados”, como nós.

Próximo à entrada da empresa, vimos cinco barracos de madeira, sem paredes, que são os locais nos quais os seis mil trabalhadores daquela fábrica se alimentam. Registre-se: alimentam-se com a comida trazida por eles próprios.

Atravessamos a ponte que dá acesso à fábrica. A ponte fica em cima de um rio. Não pudemos avançar muito porque logo nos deparamos com vigias armados que bloqueiam o portão da Codevi e olham com cara feia quem muito se aproxima.

“Essa é a explicação econômica de toda essa ocupação haitiana. As tropas estão aqui para garantir um plano econômico que inclui o biodiesel no campo e 18 zonas francas como essas. Querem aproveitar a mão de obra em condições de quase escravidão para produzir para o mercado dos EUA, pertinho de Miami”, disse Eduardo Almeida, membro da delegação e dirigente nacional do PSTU.

Ao sairmos da frente da fábrica, rumo a Cap-Hatien (nosso local de repouso naquela noite), tivemos de aguardar as águas do rio baixarem, já que uma ponte de Ouanaminthe estava tomada pelas águas. Na espera, somente a reflexão sobre o tamanho da exploração que sofrem aqueles trabalhadores. Algo profundamente desumano.

(fotos: Wladimir de Souza e Rodrigo Correia)








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